De uma escola violenta a um ambiente acolhedor com excelentes indicadores de performance. É assim que a comunidade de pais, alunos e moradores do bairro Tatuquara, em Curitiba, veem a mudança do Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay ao longo dos últimos anos, desde que a escola adotou o modelo cívico-militar.
“No passado, a nossa escola chegou a ser notícia por ter muitos casos de violência e por estar frequentemente depredada. Mas tudo mudou de uns anos para cá, desde a mudança para o modelo cívico-militar. Hoje ela é um farol para a comunidade”, conta o diretor do Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay, Sandro Mira Júnior.
A unidade é um dos 312 colégios da rede estadual que funcionam há mais de um ano neste sistema, em que monitores militares atuam em parceria com a equipe pedagógica da escola valorizando o respeito e a cidadania. É o maior número do Brasil.
“Era muito diferente. Quando eu estudei aqui, praticamente não tinha aula e era muito violento. Hoje, pelo contrário, eu fico muito tranquila em deixar meu filho em um lugar que eu sei que é seguro e que tem compromisso com a educação dele”, diz Sandy Alvez de Paula, que estudou na escola até 2010 e que atualmente tem um filho matriculado no colégio.
Como consequência de um ambiente mais disciplinado, os alunos também têm um desempenho melhor que a média. Segundo dados da Secretaria de Educação, em 2023, a nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) das escolas cívico-militares paranaenses foi de 5,43 nos anos finais do ensino fundamental e de 4,75 no ensino médio, com desempenho superior à rede estadual geral, que teve médias de 5,3 no ensino fundamental e de 4,63 no ensino médio.
“Até 2019, a gente nem tinha nota no Ideb, porque os alunos não apareciam para a avaliação. De 2021 para 2023, a gente não só conseguiu ter uma nota, como melhorou nossos índices, chegando à melhor nota da nossa região para o ensino médio e a segunda melhor no ensino fundamental”, diz o diretor Sandro Mira Júnior.
Desde 2021, o Paraná é o líder nacional do Ideb contando o desempenho de todas as escolas. Em 2023, o Estado seguiu na ponta e ainda conseguiu melhorar sua nota geral. Em parte, esta evolução se deu também por conta da melhora nas médias dos colégios cívico-militares, já que 64% escolas do modelo aumentaram a nota no ensino médio e 66% tiveram crescimento na avaliação no ensino fundamental.
"No Paraná temos escolas de todos os modelos, da tradicional à cívico-militar, da que conta com parceria da iniciativa privada na gestão ao ensino em tempo integral, além das escolas técnicas, indígenas e agrícolas. Os colégios do modelo cívico-militar são um grande acerto porque têm apresentado resultados expressivos e contam com muito engajamento das comunidades. É uma transformação", afirma o governador Carlos Massa Ratinho Junior.
"Além disso, no Paraná toda a rede conta com muita tecnologia, professores bem capacitados e em constante atualização e estruturas cada vez mais modernas, com laboratórios, internet de alta velocidade, chromebooks, Inteligência Artificial e aulas de programação, educação financeira e cooperativismo. Estamos consolidando a melhor educação do Brasil", complementa.
FILA DE ESPERA – Por causa deste tipo de evolução no Ided, o Colégio Estadual Beatriz Faria Ansay, que tem 1,9 mil alunos, tem 350 crianças e adolescentes na fila de espera por uma matrícula. Antes de adotar o modelo cívico-militar, a escola tinha apenas 600 estudantes.
A aluna Gabrielly Aleixo, de 17 anos, está no 3º ano do ensino médio. Mesmo morando na região da escola, a família dela achava melhor que ela estudasse em um colégio a 10 quilômetros de casa para não ter que frequentar a escola que tinha má fama. Com a adoção do novo modelo, o colégio voltou a ser uma opção para a família. “Eu só vim para cá porque virou cívico-militar. Se isso não tivesse acontecido, eu ainda estaria em outra escola mais distante”, afirma.
Ao todo, os colégios cívico-militares do Paraná têm 191 mil estudantes matriculados, com uma fila de espera de quase 11 mil crianças e adolescentes. Os critérios para seleção são os mesmos das demais escolas da rede, em que são levados em conta a distância da casa do aluno até escola e se a criança tem irmãos estudando na escola de destino, entre outros.
“Todo mundo da região quer ir para a escola cívico-militar. Mesmo quem não estuda no colégio vê a diferença desde que chegou este modelo. Todo mundo da comunidade, e até de bairros vizinhos, quer que seus filhos estudem lá”, afirma a líder comunitária Vânia Maria Gregorovicz.
TRANSFORMAÇÃO –O modelo está em vigor no Paraná desde 2021. Para que a mudança aconteça, ela precisa ser referendada pela comunidade escolar em uma consulta pública em que pais, funcionários, professores e alunos maiores de 18 anos votam.
Ebanessa Sabim, mãe de um aluno do Colégio Estadual Cívico-Militar Primeiro Centenário, de Campo Largo, foi uma das que votou a favor da mudança. “Eu não tive dúvida nenhuma. E estou muito satisfeita, porque foi uma mudança radical para melhor. A escola tem um excelente trabalho em relação ao cumprimento de regras e disciplina, além de ser muito rigorosa para os estudos”, afirma.
Com a adesão ao modelo, as escolas passam a ter um policial militar da reserva atuando na parte disciplinar da instituição. Entre as funções destes profissionais estão a conscientização dos alunos sobre valores como ordem e respeito, além da organização as atividades cívicas da escola e das formaturas, que são eventos diários em que os alunos cantam hinos e hasteiam a bandeira do Brasil.
No programa dos colégios cívico-militares, os estudantes também são premiados com certificados e medalhas pelo desempenho escolar e disciplinar e recebem uniformes específicos.
Gisele Grossman é mãe de uma aluna do Colégio Primeiro Centenário que conquistou uma medalha por ter tirado nota máxima em todas as disciplinas ao longo de três trimestres seguidos. Ela disse que, no início, a filha ficou receosa com as mudanças, mas rapidamente se adaptou, a ponto de ser premiada. “Ela sempre foi estudiosa e dedicada. É muito bom ela estar em um ambiente que valoriza este comportamento”, diz a mãe.
Com a adoção do modelo cívico-militar em 2021, o Colégio Primeiro Centenário se transformou em um exemplo para a cidade de Campo Largo. “Nós temos pais que os filhos ainda estão nos primeiros anos do ensino fundamental que já querem tentar garantir vaga aqui. Quando abrem as matrículas, tem gente fazendo fila na porta da escola desde as 4 horas da madrugada”, conta a diretora Roselaine Lachovistz.
Com o sucesso, outras três escolas da cidade optaram pelo modelo quando uma nova consulta foi aberta, em 2023. Outra escola de Balsa Nova, município vizinho de Campo Largo, também optou pela mudança.
“É um orgulho ver que a nossa escola é um modelo para outras. Essa é uma conquista nossa também, do nosso esforço e da nossa disciplina. Nós temos um regimento aqui que determina tudo isso, mas não fica restrito aos corredores da escola. Isso se espelha também do portão da escola para fora”, afirma a aluna Millena Ramos, de 14 anos.
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