O segundo dia do “Ceará Científico: mais solidário, mais cooperativo” foi realizado nesta quinta-feira (12), com a apresentação dos projetos elaborados por estudantes da rede pública cearense, nas diversas áreas do saber. A mostra ocorre no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza. Ao longo da manhã e da tarde, os alunos tiveram a oportunidade de demonstrar como os trabalhos foram idealizados, tomaram forma e se transformaram em ações de impacto dentro e fora da escola. O Ceará Científico é a principal ação de incentivo à pesquisa e à inovação nas unidades de ensino da rede pública cearense e ocorre por iniciativa do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Educação (Seduc). Nesta sexta-feira (13) ocorrerá a cerimônia de encerramento e premiação dos projetos vencedores.
Vitória Lima, de 17 anos, é aluna da 3ª série na Escola de Ensino Médio (EEM) José Milton de Vasconcelos Dias, em Maracanaú. Junto com outras colegas, a jovem participou da criação do movimento “Moda Periférica: os desafios das mulheres periféricas na arte”, que se tornou uma pesquisa na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, e concorre no Ceará Científico na categoria “Ensino Médio”. A iniciativa surgiu com o propósito de dar expressão a atores considerados marginalizados na sociedade, valorizando as características de cada perfil.
“O projeto teve início no ano passado, após a feira científica da escola. Desenvolvemos ações como desfiles, debates, rodas de conversa e exposições de fotos entre os alunos, com o objetivo de dar voz aos jovens, para que se mostrassem de acordo com suas próprias identidades, trazendo a sua essência”, expõe.
A colega de pesquisa Maria Teodósio, de 18 anos, complementa dizendo que o intuito é criar um espaço para que os alunos fiquem à vontade para serem quem são. “Alguns diziam que não tinham roupa para desfilar. Mas explicamos que a finalidade era deixar cada um se expressar de acordo com o que é e de onde veio. Se somos da periferia, vamos abordar essa temática no trabalho. Tenho certeza de que o ‘moda periférica’ influenciou muito a vida dos alunos que passaram pelo projeto. Tivemos um aluno negro desfilando, que disse ter sentido amor próprio pela primeira vez ao participar da ação. Também tivemos o caso de uma aluna trans que desfilou pela primeira vez como mulher”, ressalta.
Por esta linha, o trabalho aborda temas como racismo, segregação social, desigualdade de gênero e transfobia, tendo como recortes os contextos da moda e das artes.
Por meio da obra de Carolina Maria de Jesus, a trabalhadora autônoma Maria das Graças da Silva, de 50 anos, alfabetizou-se há cerca de um ano. O sonho de aprender a ler e escrever foi realizado enquanto participava, junto com outras colegas, do projeto “Empoderamento feminino: leitura, escrita e transformação de vida”, no Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) Professora Maria Angelina Leite Teixeira, em Barbalha. Maria das Graças, agora, consegue se comunicar por meio da escrita e vê a si própria em outra perspectiva.
“Éramos nove mulheres sem saber ler e escrever, com vergonha por conta da idade. Mas a professora nos auxiliou nessa conquista, com a leitura do livro ‘Quarto de Despejo – diário de uma favelada’, de Carolina Maria de Jesus. Me identifico muito com a escritora, pois ela criou os dois filhos vendendo material de reciclagem, lutou muito e também se alfabetizou tarde. Hoje as pessoas têm direito de estudar. Mas antigamente, ou comia, ou estudava. E eu preferia comer. Minha mãe me dizia, quando eu tinha 6 anos: ‘trabalha, ou não toma café’. Quando fiquei mais velha, passei a ter necessidade de ler e escrever. Tinha o sonho de escrever bilhetes para os meus dois filhos, e também, de contar às pessoas tudo o que tem no meu coração. Hoje consigo ler Carolina, e quanto mais leio, mais quero ler. Essa mulher me encanta. Esse livro mudou minha vida. Estou aqui porque a leitura e a escrita me trouxeram para outro mundo”, narra Maria, que tem renda advinda de um brechó de roupas que recebe de doação, além de ser diarista e vender doces.
O projeto desenvolvido no Ceja de Barbalha concorre na categoria Ensino Médio – Ações Afirmativas, na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias.
Pedro Enzo Rodrigues, de 16 anos, cursa a 2ª série na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) São José, em Granja. O jovem, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), é um dos realizadores do projeto “Igualdade de gênero e mudanças climáticas: protagonismo feminino na defesa ambiental”. A iniciativa tem o objetivo de difundir ações de cuidado com o meio ambiente, ressaltando a participação das mulheres.
Citando os exemplos da senadora Janaína Farias, da bióloga Rachel Carson e da ativista sueca Greta Thunberg, o projeto busca incentivar a criação de novas lideranças femininas no contexto ambiental. Ações como coleta de lixo e caminhadas pelo município tendo as alunas como protagonistas, com o intuito de influenciar a população a ter atitudes mais sustentáveis, fortalecem o projeto, que se originou no componente eletivo de Educação Ambiental. “As mulheres, que estão na busca por direitos iguais na sociedade, também precisam exercer a igualdade de gênero com relação às mudanças climáticas”, argumenta.
A colega de trabalho Stephany Ferreira, de 16 anos, considera a abordagem fundamental. “Não existem tantas mulheres ativistas do meio ambiente. Mas foi graças à Rachel Carson que surgiu o Dia da Terra, em 22 de abril de 1970”, relembra.
Além disso, conforme Pedro Enzo, há um protótipo de aplicativo para celular em desenvolvimento, que faz parte da ação. “O protótipo seria um tipo de jogo. O usuário escolhe uma espécie de planta, nativa de sua região, e passa a cuidar dela de maneira virtual. Para que a planta nasça, se enraíze, cresça e dê frutos, é preciso que, na vida real, a pessoa realize ações a favor do meio ambiente. A cada ato feito e devidamente registrado na plataforma, a planta se desenvolve. A comprovação da atividade se dá pelo envio de fotos da pessoa para os administradores do software”, explica o estudante.
De acordo com Stephany, o protótipo está em desenvolvimento e a intenção é mostrá-lo em funcionamento no próximo Ceará Científico, em 2025. O trabalho apresentado neste ano pela dupla concorre na área de Ciências da Natureza, Educação Ambiental e Engenharias, dentro da categoria PcD – Ensino Médio.
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