Aguiar, Carrapateira, Cajazeiras, Sousa e demais cidades que compõem a Bacia do Rio do Peixe, são os lugares da Paraíba escolhidos para ser palco dos impactos que um grande projeto científico irá causar. Esses municípios integram um o Complexo Científico do Sertão, realizado pelo Governo da Paraíba, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties). O carro-chefe desse conjunto de ações inovadoras é o radiotelescópio Bingo, em construção em Aguiar.
Detalhar com maior clareza para a população paraibana a dimensão em pesquisa científica do radiotelescópio Bingo e a forma como a Paraíba será projetada na ciência de alto padrão mundial é um dever. Para isso, a Secties preparou uma série com duas matérias que inicia hoje e continuará no próximo domingo. “O radiotelescópio Bingo é um projeto pioneiro que vai colocar o Brasil na linha de frente da astrofísica mundial”, salienta o secretário.
É um equipamento que será capaz de escrutinar atividades em uma área do Universo que não é ocupada por corpos celestes, onde vibram radiação eletromagnética, campos magnéticos, neutrinos, poeira interestelar e raios cósmicos. É o desconhecido espaço sideral no alvo da ciência na Paraíba.
“O Bingo é o primeiro projeto de grande colaboração científica sediado no estado da Paraíba, que envolve instituições de várias partes do mundo, como da China, do Reino Unido, da França e da Holanda. É um equipamento que vai trazer investimentos que vão envolver o desenvolvimento de inovações”, inicia Claudio Furtado. Na Paraíba, reúne pesquisadores das Universidades Federais de Campina Grande, da Paraíba (UFCG e UFPB), do Instituto Federal (IFPB) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). No Brasil, juntam-se cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Ele é o maior radiotelescópio da América Latina cujo objetivo principal é estudar a expansão acelerada do universo, mas também tem outros objetivos científicos, colocados por um dos coordenadores do projeto, o cientista Amílcar Rabelo (UFCG): "Por exemplo, a gente quer fazer monitoramento de pulsares, que são estrelas que giram e tem um período de rotação muito preciso elas funcionam como relógios do universo e a gente pode usar essas informações desse relógio do universo de várias formas para estudar como são essas estrelas”.
Amílcar Rabelo menciona outro fenômeno que deverá ser estudado, que são as rajadas rápidas de rádios, explosões que ocorrem e duram um tempo curtíssimo, de milissegundos, e libera uma quantidade enorme de energia. “É um dos fenômenos mais energéticos no universo e as ondas que chegam até nós dessas explosões estão na faixa de rádio, então o radiotelescópio Bingo é um vai poder detectar esses fenômenos e tentar obter várias informações sobre essas rajadas”. Esse fenômeno foi descoberto recentemente, neste século. Outros grandes radiotelescópios do mundo tem se dedicado a esses estudos.
Entenda como o radiotelescópio irá funcionar
Quais os meios usados pelo radiotelescópio Bingo para alcançar esses fenômenos? A palavra-chave é: radiofrequência. Claudio Furtado simplifica: “Um telescópio, como normalmente o concebemos, é um instrumento para olhar para o céu, para os astros, utilizando a luz visível. Mas a luz não é só composta da parte visível que enxergamos, as cores vermelha, azul... Tem uma parte dela, por exemplo, que é como micro-ondas, como os aparelhos que temos na cozinha, e outras radiações ultravioleta; elas são invisíveis. Nessa parte do espectro de luz tem várias maneiras de você olhar. Então, o radiotelescópio é um olho que enxerga a radiofrequência, que enxerga micro-ondas.”
Ele continua explicando como funciona essa tecnologia. “O Bingo está olhando uma faixa do passado do universo, e com isso vamos saber o que aconteceu lá no início do universo. O que é que acontece com uma coisa que preenche uma grande parte do universo que é energia e matéria escura. Essas são as respostas do ponto de vista de ciência e tecnologia.”
Paraíba tem localização privilegiada para a construção do radiotelescópio
Por que o município de Aguiar, no Sertão da Paraíba, foi escolhido para ser a casa do radiotelescópio Bingo? Amílcar Rabelo responde que “primeiro, o radiotelescópio é um equipamento muito sensível a interferências de ondas de rádio, particularmente de celular, ou emitidas de um avião. No local onde ficará o Bingo, na zona rural de Aguiar, ao fundo de um vale, ele estará livre dessas interferências, protegido pelos morros da serra de Santa Catarina”.
Apesar de ser um lugar de difícil acesso, Amílcar Rabelo explica que o radiotelescópio “está perto de boas cidades: Aguiar, Carrapateira, Sousa… E temos um apoio e uma certa infraestrutura que permite a gente fazer esse trabalho. Além disso, a Paraíba tem um grande benefício que é o fato de ter muitas universidades bem posicionadas no interior; então fica fácil também a gente congregar cientistas e estudantes.”
Na baixada onde está a infraestrutura gigante, que chegará a ser do tamanho de um estádio de futebol, o radiotelescópio está sendo construído atrás de um grande paredão de pedra para evitar que ondas alcancem o radiotelescópio. A casa de comando já está pronta e a usina solar de produção de energia e outras infraestruturas necessárias está funcionando.
“Podemos nesta casa operar computadores conectados à internet e algumas coisas que realmente produzem interferência de rádio, mas esse paredão protegerá o Bingo das interferências de rádio geradas dentro da casa. As únicas coisas que o radiotelescópio verá virão do nosso universo lá do céu”, encerra Amílcar.
Sobre o Complexo do Sertão
O Complexo Científico do Sertão tem o objetivo de descentralizar políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação dos centros de ciências e museus científicos para levá-las, também, à região do Sertão da Paraíba.
O secretário da Secties, Claudio Furtado, informou que uma série de investimentos locais vão acontecer a partir do momento em que os municípios do entorno onde está em construção o radiotelescópio Bingo receberão um fluxo de visitantes ligados às ciências. Estes serão atraídos pelas ciências astronômicas, arqueológicas, paleontológicas, geológicas, dos minerais, entre outras.
“Com a promoção do intercâmbio de pesquisadores aqui para o estado da Paraíba todo esse grande entorno ao redor do Bingo será alavancado em diversas áreas. A parte científica será a atração de um circuito de ciência, cultura e turismo que vai alavancar o desenvolvimento Regional dessa região aqui do Sertão paraibano baseado na Ciência e Tecnologia”, declarou Claudio Furtado.
O conjunto de ações envolvem, além da instalação e fomento às pesquisas no Radiotelescópio Bingo, na cidade de Aguiar, a Construção da Cidade da Astronomia, em Carrapateira; a Ampliação do Monumento Parque Vale dos Dinossauros, em Sousa; Atividades de Pesquisa e Patrimonial da Bacia Sedimentar do Rio do Peixe (APEAP), estudos de arqueologia que culminará em uma ampliação dos acervos do Museu de Arqueologia da Paraíba e o projeto Esperança no Espaço - BINGO.
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