Cultura Acre
Arquitetura, tradição e sustentabilidade marcam a parceria de Marcelo Rosenbaum com os Yawanawá
A vivência e os conhecimentos das comunidades indígenas despertam fascínio em muitas pessoas ao redor do mundo, e com Marcelo Rosenbaum não foi dif...
04/02/2025 14h35
Por: GIDEON CORREA Fonte: Secom Acre

A vivência e os conhecimentos das comunidades indígenas despertam fascínio em muitas pessoas ao redor do mundo, e com Marcelo Rosenbaum não foi diferente. O renomado arquiteto brasileiro esteve presente na 5ª Conferência Indígena da Ayahuasca, realizada na Aldeia Sagrada Yawanawá, no Alto Rio Gregório, reafirmando seu compromisso com os povos originários e suas tradições.

Durante o evento, o arquiteto encontrou o governador do Acre, Gladson Cameli, um grande admirador de seu trabalho. Foto: Felipe Freire/Secom

Rosenbaum é também professor, designer, comunicador e palestrante. Fundador e presidente do Instituto A Gente Transforma, desde 2011 busca ressignificar espaços e valorizar saberes ancestrais. Seu trabalho já passou por diversas instituições e empresas, como a estruturação de ativações para o banco Itaú, no Rock in Rio, e a criação de lojas para a marca de moda Farm.

Projetos na Aldeia Sagrada

Sua contribuição para a Aldeia Sagrada Yawanawá é significativa, pois ele esteve envolvido na idealização de três importantes estruturas locais. A mais relevante delas é o shuhai, centro cerimonial situado no coração da aldeia, onde acontecem os principais encontros da comunidade. Construído em parceria com a ITA Engenharia, o espaço possui 855 metros quadrados e 33 metros de diâmetro.

O shuhai foi o principal espaço da conferência, onde foram realizadas as mesas temáticas e principais deliberações. Foto: Felipe Freire/Secom

Além disso, Rosenbaum colaborou na concepção do Complexo Y, um espaço de hospedagem projetado para acolher 250 pessoas durante o evento. Com uma extensa área externa onde são preparadas e servidas refeições comunitárias, o local tem 1.877 metros quadrados e está destinado a se tornar a Universidade dos Saberes Ancestrais Yawanawá.

O espaço é projetado para ser visto de cima como a letra Y, representando o povo Yawanawá. Foto: Felipe Freire/Secom

E outra obra trabalhada pelo olhar experiente de Rosenbaum na aldeia é a casa da filha do cacique, projetada com módulos replicáveis para facilitar sua expansão e aplicação em outras moradias. Cada uma dessas construções reflete um projeto mais amplo, que visa não apenas criar espaços físicos, mas também fomentar práticas sociais, culturais e econômicas que garantam um futuro promissor para as próximas gerações de Yawanawá.

A construção dessas estruturas foi um processo coletivo, no qual os próprios Yawanawás, organizados de maneira autônoma, trabalharam ao lado de arquitetos e engenheiros. O protagonismo indígena foi essencial: foram eles que construíram, exercendo e aprimorando seus conhecimentos arquitetônicos, acumulando saberes que serão transmitidos para as futuras gerações.

O complexo Y é projetado para ser um espaço de coletividade entre todos. Foto: Felipe Freire/Secom

A arquitetura como ferramenta de transformação

Marcelo Rosenbaum destaca que esse trabalho é resultado de uma relação de 14 anos com a comunidade Yawanawá, especialmente com o cacique Biraci Brasil e sua família. Essa longa jornada permitiu o amadurecimento de ideias e experimentações até que se chegasse a um modelo ideal de construção para a aldeia. O arquiteto enfatiza a importância de aprender com os povos indígenas e de contribuir para a preservação não apenas de suas moradias, mas de todo o ecossistema em que vivem.

Rosenbaum conta que o projeto é fruto de 14 anos de proximidade com o povo Yawanawá. Foto: Felipe Freire/Secom

“Tenho trabalhado em muitos territórios indígenas e busco aprender sempre ao máximo. Nunca trago uma tese ou um conceito pronto. São os próprios povos que detêm o conhecimento e, a partir dele, construímos de maneira colaborativa. Eles são os verdadeiros guardiões da floresta. E em meio ao colapso ambiental e à crise climática, vejo essa troca como uma forma de aprendizado e contribuição”, diz Marcelo.

A arquitetura de Rosenbaum na aldeia Yawanawá busca criar espaços com grande circulação de ar, devido ao clima local. Foto: Felipe Freire/Secom

Seu trabalho é motivado pela máxima de arquitetura e design como ferramentas de transformação social, com uma atuação próxima a comunidades indígenas de todo o Brasil. Além do Acre, ele já desenvolveu projetos indígenas em outras localidades como um conjunto de edificações em Itarema, no Ceará, para o povo Tremembé. Ele também desenvolveu a sede do Conselho Indígena de Roraima, em Boa Vista.

Um espaço de valorização cultural e identitária

O líder Yawanawá e anfitrião da 5ª Conferência, cacique Biraci Brasil, destaca que toda a infraestrutura foi pensada para proporcionar um espaço digno e adequado ao evento, que é um momento fundamental de deliberação sobre os usos, costumes e compartilhamento de saberes das medicinas tradicionais.

Ele levanta: “Fizemos essa frutífera parceria com Rosenbaum para proporcionar um local confortável de vivência, com uma estrutura que prova que conseguimos viver muito bem na floresta. Eu quis semear neste local de tanta importância um espaço de amor ao próximo e de resgate da autoestima para as novas gerações indígenas”.

“Aqui recebemos nossos irmãos de todos os lugares do mundo com muito orgulho de ser Yawanawá”, ressalta o cacique Bira. Foto: Felipe Freire/Secom

O trabalho de Marcelo Rosenbaum junto aos Yawanawá revela uma síntese entre arquitetura, sustentabilidade e respeito às tradições ancestrais. Seu projeto não apenas ergue estruturas, mas também fortalece identidades e possibilita que o conhecimento dos povos originários continue vivo e pulsante para as gerações futuras.

Governo do Acre na conferência

O governo do Acre marcou presença na conferência, ressaltando o seu compromisso com as lideranças indígenas e fortalecendo sua mobilização por direitos. Por meio da atuação da Secretaria Extraordinária de Povos Indígenas (Sepi), foi fornecido apoio, estrutura, garantia de suporte logístico e participação ativa das discussões e mediações do evento.

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