Um convênio firmado entre a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) e a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) disponibiliza vagas de trabalhos para as pessoas privadas de liberdade do regime semiaberto, da Unidade de Custódia e Reinserção do Coqueiro (UCR Coqueiro). Desde a sua criação, em 2016, mais de 50 internos já passaram pelo projeto Acuaré que garante a remuneração do salário mínimo vigente, com jornada de trabalho máxima de 44 horas semanais.
Atualmente, o convênio conta com 26 reeducandos, e abrange os regimes semiaberto, domiciliar e aberto. O projeto permite que eles desenvolvam habilidades em áreas como manutenção predial, pintura e refrigeração.
“A não reincidência criminal impacta diretamente no índice de criminalidade. O interno que participa de projetos como este recebem como benefício o salário mínimo, a contribuição previdenciária, e conforme estabelecido na Lei Estadual nº 9.078, que regulamenta as atividades laborais e a remuneração das pessoas privadas de liberdade, 25% do salário é destinado para a família dos internos”, diz Rodrigo Teixeira, gerente de comercialização da Seap.
“Temos buscado garimpar, junto com a UCR do Coqueiro, reeducandos que têm habilidades específicas. A gente precisa muito de pessoas com o conhecimento em pintura, marcenaria, refrigeração, hidráulica, além da parte de manutenção predial, a recomposição de calçadas e a roçagem e capina”, afirma.
Bons Resultados
Os convênios desenvolvidos entre Seap e seus parceiros contribuem para a reinserção social dos apenados, e geram perspectivas reais no sentido de evitar o cometimento de novas condutas delitivas, ao término de cumprimento da pena. Além de propiciar um olhar mais humanizado sobre as atividades desempenhadas por eles.
Aprimoramento
As oportunidades de trabalho e estudo proporcionadas dentro do ambiente carcerário permitem o desenvolvimento ou aperfeiçoamento de habilidades desejáveis no mercado de trabalho, foi isso o que aconteceu com o interno Fagner Barbosa, de 38 anos.
“Eu estou no sistema penal desde 2018, lá dentro da unidade eu comecei a exercer a atividade de manutenção de refrigeração, até fiz alguns serviços para a Seap também. Mas estou no projeto da Cosanpa há 8 meses e está sendo muito bom, porque mesmo estando recluso consigo me manter atualizado na minha profissão, quero permanecer dentro do mercado e ter uma perspectiva de vida quando acabar a minha pena”, conta Fagner.
“A gente tenta pegar todos os equipamentos sucateados e que antes que iam para o lixo, e tenta trazer aqui para a bancada, aí vamos tentar reformar, tentar resolver, ou trocar uma peça ou outra. Por exemplo, a gente tem dois equipamentos que foram recém reformados e estão sendo encaminhados para a unidade da Cosanpa de Castanhal. Ou seja, antes um equipamento novo teria que ser comprado, mas com a manutenção feita, já tem como disponibilizar para o uso”, finaliza.
No próximo dia 25 de outubro, Renato Ribeiro, egresso do sistema prisional, completa um ano de carteira assinada trabalhando como eletricista na Cosanpa, mas já são 4 anos de serviços prestados a Companhia de Saneamento.
“Já passei pelo projeto, fiquei até agosto de 2023 e quando terminou o meu processo do semiaberto a Cosanpa me abraçou e hoje eu trabalho aqui de carteira assinada. Eu só tenho a agradecer, e sempre reforço isso para todos os meninos que estão vindo para o projeto aproveitarem o leque de oportunidades que a Cosanpa oferece”, conta Renato.
Aos 53 anos, o egresso passou por diversas capacitações enquanto estava sob custódia, segundo ele o ambiente carcerário tem muitos profissionais que merecem uma oportunidade de retornar a sociedade.
“Eu tinha a prática, mas não tinha a certificação, foi através da parceria entre a Seap e o Senai que hoje sou certificado em instalador hidráulico, pedreiro, carpinteiro, mecânico de motos e eletricista, a profissão que desenvolvo atualmente. Por isso eu falo para os demais aproveitarem as oportunidades, e agarrar com unhas e dentes.”
Além de colecionar certificações, Renato adquiriu todo o material de trabalho para atuar como autônomo e recentemente mais uma conquista, comprou uma moto e está próximo de quitá-la.
“Aqui a gente é tratado com respeito, como um ser humano e não como presidiário, e os meus gestores são parte da família, então essa é a motivação que todos temos para executar o nosso trabalho com alegria”, finaliza Renato.
Conheça mais sobre o trabalho prisional
No Pará, há mais de 3 mil internos em atividades laborais dentro e fora das 54 unidades prisionais, trabalhando seja por meio de contratos diretos com a Seap, ou mediante a convênios com empresas ou órgãos públicos. A Seap garante direitos aos internos e assegura que sejam exercidas diversas modalidades de trabalho, entre elas o remunerado com um salário mínimo vigente e o pagamento de previdência social, garantindo a remição de pena, a cada três dias trabalhados, um dia de pena é reduzido, de acordo com a Lei de Execução Penal nº 7.210, de 11 de julho de 1984.
Texto de Yasmin Cavalcante / Ascom Seap