Atividade lúdicas incluem pinturas, massinhas e brinquedos
Durante o mês de outubro, quando é comemorado o dia das crianças, os pacientes acompanhados pelo Núcleo de Atenção a Infância a Adolescência (Naia) do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM) estão sendo estimulados a participar de uma série de atividades recreativas enquanto aguardam a consulta. A iniciativa da unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) partiu dos próprios profissionais do ambulatório, que estão intensificando esse tipo de ação entre familiares e pacientes.
A dona de casa Fabilene de Aquino, de 26 anos, mora em Caridade, no interior do Ceará. De dois em dois meses, ela comparece ao hospital com a filha que faz tratamento para transtorno psiquiátrico. Na última sexta-feira, mãe e filha brincaram juntas enquanto aguardavam ser chamadas pelo médico. “Fizemos massinha e conversamos com as psicólogas sobre as brincadeiras que podem ajudar no tratamento da minha filha. Além de tornar esse momento divertido, os profissionais nos orientam em relação aos tipos de brincadeiras mais apropriadas para os nossos filhos, pois muitas vezes não sabemos como brincar e como lidar com eles nos momentos de crise”, reconhece.
Construção de brinquedos é orientada pela profissional da unidade
Os especialistas do Naia estão realizando essas ações lúdicas todas as sextas-feiras, durante este mês, com o objetivo de conscientizar as crianças e seus familiares quanto à importância do ato de brincar para a saúde mental. Estão sendo realizadas diversas atividades, como oficina de massinha, construção de brinquedos, contação de histórias, confecção de garrafas sensoriais, além da distribuição de lanche saudável, como espetinhos de frutas, pelas nutricionistas do hospital. Os pacientes colocam a mão na massa e participam das brincadeiras com alegria e entusiasmo.
De acordo com a psicóloga do Naia, Socorro do Valle, o brincar é muito mais do que uma simples atividade recreativa. “A gente traz para esses pais a importância do lúdico considerando que o brincar estabiliza as emoções, estabelece contato consigo e com o meio, trabalha o contato físico, ajudando na formação, socialização, desenvolvendo habilidades psicomotoras, sociais, físicas, afetivas e cognitivas”, explica.
Os pais são auxiliados pelos profissionais do Naia a construírem formas de brincar. “Muitas vezes as crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sobretudo, deixam de brincar porque não sabe-se muito bem como conduzir determinada brincadeira. Nessas oficinas estamos ajudando os pais a construírem esse brincar, dando funcionalidade às atividades, que podem ser viabilizadas com materiais acessíveis. A massinha, por exemplo, pode ser feita com ingredientes caseiros. Para quem mora na zona rural orientamos que é possível brincar com banco de areia e outros recursos da natureza, construindo os próprios brinquedos”, orienta.
Massinha caseira pode ser feita com materiais como a farinha de trigo
Outro aspecto importante é que o brincar ajuda a reduzir o estresse, principalmente as brincadeiras ao ar livre, por promoverem a liberação de endorfinas, neurotransmissores que proporcionam sensações de prazer e felicidade. As interações sociais que ocorrem durante as brincadeiras em grupo ajudam a fortalecer vínculos de pertencimento e apoio.
A psiquiatra da Infância e da Adolescência do Naia, Juliana Cruz, enfatiza que brincando, as crianças são estimuladas a interagirem com os colegas ou pais e a compartilharem os brinquedos. “Dessa forma a gente vai avaliando o comportamento dela e que tipo de avaliação ela precisa, pois as brincadeiras coletivas são essenciais para o desenvolvimento emocional saudável”, afirma.
Para garantir que as crianças tenham oportunidades adequadas de brincar, pais e educadores podem seguir algumas orientações. “É muito importante que os pais tenham um tempo para brincar com essas crianças. É sentar no chão, ficar na mesma altura da criança e olhar nos olhos. Pode ser uma brincadeira simples, desenhar e colorir juntos, montar um quebra-cabeça, construir blocos, entre outras brincadeiras. Esse brincar vai fortalecer o relacionamento entre a família, estimulando uma infância saudável e auxiliando os especialistas que atuam no tratamento da saúde mental das crianças”, frisa a psiquiatra.