Ana Paula retirou um segundo nódulo da mama após exames de rotina: “são coisas simples que estão ao nosso alcance”
A campanha Outubro Rosa é um movimento internacional de conscientização para o controle do câncer de mama, criado no início da década de 1990 por uma fundação americana. A data, celebrada anualmente, tem o objetivo de compartilhar informações sobre diagnóstico e tratamento da doença e contribuir para a redução da mortalidade.
Mas, ao longo dos anos, o mais famoso e pioneiro dos “meses coloridos” vem lembrar a todos que, antes de tudo, é necessário ter atenção aos hábitos que podem reduzir os riscos desse câncer, o tipo que mais acomete mulheres em todo o mundo. E esses hábitos precisam nos acompanhar durante todo o ano: de outubro a outubro rosa. Por essa razão, esse é o tema da campanha da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
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Ana Paula de Oliveira, 40, retirou um nódulo da mama direita no Instituto de Prevenção do Câncer (IPC), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Não foi a primeira vez: há cinco anos, um nódulo na outra mama também já havia sido percebido e retirado. Benignas, as duas lesões não oferecem diretamente risco de câncer de mama, mas a atenção e o cuidado de Ana Paula aos sinais do próprio corpo são fundamentais à prevenção contra a doença.
A mãe de Ana Paula faleceu em 2019, um ano depois do diagnóstico de câncer de mama. “Ela nunca tinha feito a mamografia ou outros exames regulares. Quando descobriu, já estava tudo em um estágio muito avançado”, lamenta. O histórico serve de inspiração para redobrar a atenção: “Eu já me cuidava antes, né? Agora estou me cuidando ainda mais”.
A auxiliar de cozinha mora em Barreira, na região do Maciço de Baturité, e foi na Policlínica de Maracanaú onde realizou o exame de mamografia que avistou o nódulo recém-tirado. Ela conta que o exame detectou também um novo nódulo na mama esquerda, mas a orientação médica foi de que a retirada não seria necessária: “A médica viu e disse que ele não é irregular, que não está crescendo. Vamos, então, monitorar”, conta a paciente.
Além dos exames em dia, que podem garantir uma detecção precoce de alterações que podem levar ao câncer, Ana Paula também não descuida em relação ao estilo de vida. Como trabalha em uma pizzaria e as atividades se concentram durante a noite, a regularidade no sono é um desafio, mas ela se esforça para manter outros hábitos saudáveis.
“Não sou muito de comer besteira, não fumo nem bebo nada de álcool. Antes eu até bebia, mas muito pouco. Parar de vez, inclusive, ajudou com um problema de enxaqueca que eu tinha”, comenta. “No fim das contas, são coisas simples que estão ao nosso alcance: fazer exercício, comer direito e dormir bem”, ela enumera.
Quanto às atividades físicas, o desejo é de retomada. Em Barreira, pratica hidroginástica duas vezes por semana há cerca de um ano. “Só fiquei meio afastada por causa da cirurgia, mas já vou voltar, se Deus quiser”.
Médica mastologista do IPC, Aline Carvalho reforça importância do cultivo de hábitos saudáveis como principal forma de prevenção contra o câncer de mama
A atenção aos exames de rotina e hábitos de um estilo de vida saudável não devem ser buscados somente por pessoas com histórico de câncer na família, como é o caso de Ana Paula.
Apesar de o histórico familiar contar na avaliação do risco de câncer, é sabido que a maioria dos casos de câncer de mama são os chamados “esporádicos”. Isto é, ocorrem em pessoas que não necessariamente possuem um parente que apresentou a doença.
“O câncer esporádico é aquele que acontece sem haver um fator genético conhecido. No caso do câncer de mama, apenas cerca de 10% dos casos são hereditários, que podem passar de geração em geração. Em 90% das ocorrências, as causas têm muito mais a ver com o estilo de vida da pessoa”, explica a médica Aline Carvalho, mastologista do Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPC).
É preciso, então, estar atento aos chamados fatores de risco: hábitos ou características relacionados a uma maior incidência da doença.
A médica do IPC aponta alguns desses fatores: “Obesidade, menopausa, uso excessivo de álcool, uso prolongado de hormônios (hormônios femininos, anticoncepcionais, reposição hormonal por longo tempo), sedentarismo, alimentação inadequada — rica em embutidos, enlatados e ultraprocessados, por exemplo”, lista a mastologista.
O Ministério da Saúde recomenda exames clínicos regulares a partir dos 40 anos e o exame de mamografia a partir dos 50 anos
Os índices de sucesso do tratamento de câncer de mama são tanto maiores quanto mais cedo for descoberto o diagnóstico: estudos apontam que, quando um tumor é identificado em fase inicial, as chances de cura chegam a cerca de 95%.
Para a detecção precoce do câncer de mama, o Ministério da Saúde recomenda exames clínicos regulares a partir dos 40 anos e o exame de mamografia a partir dos 50 anos.
“Quando em estágio inicial, alterações na mama geralmente não são percebidas pelo toque na pele nem são visíveis no espelho. No início, é tudo muito sutil, tão discreto que somente pode ser percebido nos exames de imagem, o que inclui a mamografia e, em alguns casos, também a ultrassonografia das mamas, quando ainda nem é um câncer propriamente dito”, explica a mastologista Aline Carvalho.
Além de aumentar as chances de cura, o diagnóstico precoce também possibilita tratamentos menos invasivos ou mutilantes: “Descobrindo cedo, menores são as chances de retirada das mamas ou de necessidade do tratamento de quimioterapia”, comenta a mastologista.
A médica reforça a importância do monitoramento de alterações na mama e pondera que não se deve temer o resultado dos exames: “É importante lembrar que nem toda alteração percebida na mamografia implica que a paciente esteja com câncer ou com uma lesão que um dia vai virar um câncer. Existem critérios e procedimentos bem estabelecidos que nos permitem avaliar e investigar a lesão encontrada”, explica.
“O importante é fazer os exames e buscar os resultados antes de perceber qualquer suspeita. Ou, tendo percebido alguma alteração, procurar logo o posto de saúde para checarmos logo o que é”, recomenda a médica do IPC.
A mamografia é um exame de imagem que detecta alterações nas mamas que podem ser suspeitas de câncer. Ela utiliza raios-x para criar imagens que serão analisadas por um médico mastologista ou radiologista.
Forma mais eficaz de detectar o câncer de mama precocemente, a mamografia permite a descoberta do câncer anos antes de ele ser visto na pele ou apalpado.
No SUS, a mamografia deve ser solicitada por um médico ou um enfermeiro da atenção básica, no Posto de Saúde. A requisição, devidamente preenchida e carimbada pelo profissional que solicitou, deve ser apresentada na unidade de saúde onde o exame foi agendado.
O Ceará está dividido em cinco grandes regiões de saúde, que contemplam, ao todo, 17 áreas descentralizadas. Cada área possui uma policlínica com mamógrafo e abrangência regional. A rede estadual conta com 25 aparelhos distribuídos por todo o Ceará, nas Policlínicas Regionais e em Fortaleza — no Hospital Geral César Cals (HGCC), no Hospital Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA) e no Instituto de Prevenção do Câncer (IPC).
Lembre-se, se você tem entre 50 e 69 anos, procure manter uma frequência mínima de uma mamografia a cada dois anos, ou conforme a orientação de seu médico.