A poucas horas de embarcar para os Estados Unidos, Willian Rafael (17) ainda se questiona como fazer para toda aquela bagagem caber em sua mala de viagem. A mãe, da janela do quarto, já com sintomas de saudades, observa o filho dar os primeiros passos rumo aos seus sonhos mais altos.
Quarto filho entre cinco irmãos, Will, como é carinhosamente chamado pela família e amigos, é um dos estudantes da rede pública estadual de ensino a vencer a 1ª edição do Seduckathon, competição promovida pela Secretaria da Educação do Piauí (Seduc) voltada para o desenvolvimento de novas tecnologias.
Como prêmio, Willian Rafael e mais 27 estudantes vencedores da competição receberam do Governo do Estado um intercâmbio educacional de um mês na Worcester Technical High School e Framingham High School, instituições referências no ensino de tecnologia, nos Estados Unidos.
Das 10 equipes vencedoras da primeira edição do Seduckathon, seis farão intercâmbio educacional nas duas instituições norte-americanas, de 21 de setembro a 19 de outubro de 2024. Eles já embarcaram, nessa sexta-feira (20), às 15h, no Aeroporto Petrônio Portela, rumo aos Estados Unidos. As demais equipes irão, em outubro, para a Coreia do Sul.
Na Escola Premen Norte, e na vizinhança, Will tornou-se uma referência. Criado no bairro São Joaquim, coração da zona norte de Teresina, o cotidiano sempre pôs à prova o desejo do jovem de galgar sonhos mais altos. A conquista no Seduckathon, ele garante, abriu portas não apenas para si, mas para toda sua comunidade.
“Eu sou o primeiro da vizinhança que tem a oportunidade de sair do país para fazer um intercâmbio. Fico feliz por servir de inspiração. Espero que essa próxima geração veja a minha imagem e use como combustível para buscar novas oportunidades lá fora e, principalmente, não esquecer da terra de onde veio”, afirmou o estudante.
Will e os colegas que fazem parte do intercâmbio irão aperfeiçoar seus conhecimentos em desenvolvimento de sistemas. A realidade dele é compartilhada por quase toda a comitiva que desembarca em solo norte-americano, jovens piauienses que são a aposta em um futuro promissor para o estado.
Para a mãe do jovem desenvolvedor, Francisca Soledade, a saudade só não é maior que o orgulho do filho, criado com tanto amor e suor.
“Ele sempre foi super inteligente. Ele teve essa oportunidade de participar do 1º Seduckathon e, graças a Deus, foi um grande sucesso. Eu agradeço primeiramente a Deus, depois, ao governador Rafael Fonteles e ao secretário Washington Bandeira por essa iniciativa, porque fez ser possível o meu filho conseguir realizar o sonho dele. A emoção foi forte. Só depois que a ficha foi caindo”, garantiu emocionada Soledade.
Se engana, porém, quem acredita que Will se encaixa no estereótipo do “nerd”. Além de estudioso, o garoto ama música, moda e esportes. A música, inclusive, promete ser uma estratégia para a ambientação em Boston.
“Eu sou um cara que aprendo vendo. Desde quando eu era bem pequenininho, minha família colocava músicas em inglês, dos anos 90 e 2000. Eu ficava ouvindo, tentando repetir e ficava cantando, muitas vezes sem saber o significado das palavras, mas isso me ajudou com a pronúncia também”, completa o aluno.
Para o secretário Washington Bandeira, o embarque dessa sexta coroa e reconhece o empenho e talento dos estudantes da rede pública estadual. "Digo e repito, esses garotos não são apenas o futuro do Piauí, são o presente. Os trabalhos desenvolvidos por eles por meio do Seduckathon são ferramentas que irão auxiliar a própria comunidade escolar e também o nosso trabalho frente à Seduc. Como o governador Rafael gosta de ressaltar, se trata de um choque educacional. A viagem de hoje coroa esse trabalho", destaca o gestor.
Do outro lado da zona norte de Teresina, no bairro Buenos Aires, Paulo Victor (17), companheiro de equipe de Will no Seduckathon, também faz planos para o período de intercâmbio. Mais tímido e reservado, o jovem é uma antítese do seu colega de equipe. Característica que não impediu a amizade entre eles.
“Nós estamos sempre juntos na escola conversando, fazendo graça. Desde o ano passado, William e Arthur (outro membro da equipe) ficaram mais chegados. Comecei a me enturmar este ano, por causa do Seduckathon. Eu sempre ficava mais na minha, mas nossa amizade foi bem tranquila (de se construir), na verdade”, explicou o estudante.
Filho único, Victor também é apaixonado por tecnologia desde a infância. Ele lembra do primeiro celular, objeto que abriu sua curiosidade para esse novo mundo a ser desbravado. “Eu tinha oito para nove anos quando ganhei meu primeiro celular. Nisso, eu comecei a pesquisar mais, comecei a me aprofundar e fui descobrindo novas coisas. Naquela época, o que estava marcando mesmo, veio bem antes de Free Fire, era Mobile Legends (jogos)”, lembra o garoto.
Em casa, a mãe, Luzia Oliveira, lembra que o dom do filho sempre esteve ali, a olhos vistos, e que pôde ser potencializado graças à escola. “Desde pequenininho que a gente percebeu que ele tinha esse negócio de tecnologia. O pai dele insistiu para ele jogar bola, passou muito tempo na escolinha de futebol, mas a gente viu que o negócio dele era tecnologia. Ele já nasceu com esse dom e aí veio o Seduckathon e deu essa oportunidade maravilhosa”, completa a mãe do Paulo Victor.
Assim como Will, ele teve seu primeiro contato com a disciplina de Desenvolvimento de Sistemas ao ingressar no ensino médio integrado ao ensino técnico, ofertados nas escolas do Governo do Estado, por meio do modelo de tempo integral. No colégio, ele pôde unir a paixão e curiosidade por jogos e programação, com uma perspectiva de futuro profissional.
“Eu comecei a focar nisso (estudo de tecnologias) ano passado, quando eu entrei no Premen. Eu vi a área de programação de jogos e comecei a me interessar. Antes, eu sempre passava a maioria do meu tempo jogando e, às vezes, eu pesquisava sobre como certas coisas funcionavam”, lembra Victor.
A paixão por jogos online e as amizades construídas ao longo dos anos, logo acenderam o desejo de conhecer outros lugares. A possibilidade de fazer um intercâmbio era um sonho distante, o qual ele não esperava realizar tão jovem.
“Eu admito que no começo eu fiquei um pouco em choque. A maioria das pessoas que saem daqui, de Teresina, para os Estados Unidos, passa anos e anos juntando condições, e eu, com 17 anos, já estou indo para lá, graças ao Seduckathon”, pontuou o estudante.
Durante todo o período de intercâmbio, os estudantes serão acompanhados por professores e representantes da Secretaria da Educação do Piauí (Seduc), que os guiarão no cumprimento de cronogramas e garantirão o bem-estar e segurança dos menores. Além disso, todos os custos estão sendo assegurados pelo Governo do Estado, que também forneceu materiais de estudo e um notebook para cada um dos alunos e professores.
Entre os familiares, impera a certeza de que a oportunidade ofertada aos seus filhos é única e um divisor de águas para o futuro dos jovens. “Do Piauí para o mundo”, como brada o lema da comitiva piauiense, com a esperança de que eles retornem ainda mais inspirados e cientes que são agentes transformadores de suas comunidades.
“Vou sentir saudades. Mas ele vai passar um mês viajando, estudando e é isso que mais me conforta, que ele está indo para estudar, ter conhecimento dos objetivos dele”, se emociona Luiza, mãe de Paulo Victor.
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