Em fevereiro de 2024, o preço médio pago aos agricultores teve uma alta de 28,15% na comparação com o mesmo mês de 2023 (Foto: Aires Mariga)
Os produtores catarinenses de feijão-preto atravessam um bom momento em relação às cotações da saca do produto. Em fevereiro, o preço médio pago aos agricultores teve uma alta de 4,41%, na comparação com o mês anterior, e de 28,15% na comparação com fevereiro de 2023, em termos nominais. A informação consta no Boletim Agropecuário de março , publicação mensal do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa). Por outro lado, a soja, o milho e o trigo apresentaram retração no preço recebido pelos agricultores.
O Boletim pode ser conferido, na íntegra , no site do Observatório Agro Catarinense , da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri) e da Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária (SAR) .
Conforme levantamento da Epagri/Cepa, o preço médio pago aos produtores de feijão-preto em fevereiro, pela saca de 60 quilos, chegou a R$336,42. Na série de dados disponíveis no site do Observatório Agro Catarinense, esse é o maior preço nominal pago aos produtores desde novembro de 2019. Esse contexto também se refletiu nos preços do produto no atacado, onde também chegou ao maior patamar para o período.
Conforme o analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, João Alves, esse comportamento altista já era esperado para esta época do ano, contudo, as adversidades climáticas, especialmente o excesso de chuva no período de plantio da primeira safra, a falta de chuva na fase de enchimento dos grãos e as baixas temperaturas durante o ciclo da cultura, reduziram as estimativas de produção. Isso gerou uma expectativa de que poderá faltar feijão-preto no mercado, o que tem mantido os preços em patamares elevados.
Os dois tipos de feijão mais cultivados em Santa Catarina tiveram comportamento diferente em termos de mercado neste início de ano. Enquanto o feijão-preto apresentou valorização, o preço pago ao produtor pelo feijão-carioca teve queda de 8,44% em fevereiro, na comparação com o mês anterior. O valor médio recebido pela saca de 60 quilos, que ficou em R$217,08, é 32,51% menor do que o valor registrado em fevereiro de 2023 (em termos nominais).
Até o final de fevereiro, a colheita de feijão (primeira safra 2023/2024), tinha alcançado 63% da área plantada estimada, o que representa cerca de 33 mil toneladas do produto colhidas. Após as últimas atualizações, a Epagri/Cepa estima que tenham sido plantados em Santa Catarina, com feijão na primeira safra, cerca de 28,5 mil hectares, uma redução de 7% em relação à área plantada na safra passada. Também já é perceptível uma redução da produtividade, em virtude dos problemas climáticos, o que deve resultar em numa safra 14,5% menor do que a anterior. Na segunda safra de feijão, que atualmente está em fase de plantio, devem ser semeadas 30,3 mil hectares no Estado, área cerca de 3% menor do que a da segunda safra de 2022/2023.
Após quatro meses de elevação gradual do preço médio mensal pago ao produtor, em fevereiro o valor da saca de milho apresentou um recuo de 5,8% na comparação com o mês anterior, cotada em R$58,44. O analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Haroldo Tavares Elias, explica que a recuperação da safra da Argentina e dos estoques mundiais têm influenciado na conjuntura atual. No entanto, a tendência a médio prazo é de elevação dos preços no mercado interno. O analista justifica que a safra nacional de milho menor, aliada a uma previsão de aumento do consumo do cereal para a fabricação de ração e etanol, deve afetar o balanço entre oferta e demanda.
As condições climáticas adversas do início da primeira safra de milho no Estado levaram a Epagri/Cepa a atualizar a estimativa de produção, que agora é de 2,3 milhão de toneladas, redução de 13,8% em relação à safra anterior. Já as estimativas iniciais para a segunda safra apontam um aumento de 8% na área plantada.
Em 2024 o preço pago ao produtor catarinense pela saca de soja registrou uma forte queda. Desde dezembro de 2023, as cotações tiveram uma retração de 17,6%. Com isso, o valor médio da saca, em fevereiro, ficou em R$109,04, cerca de 31% abaixo do registrado no mesmo período de 2023. Essa é a menor cotação, em termos nominais, desde 2020. Conforme Haroldo, a recuperação da safra da Argentina e a influência do mercado internacional têm pressionado os preços no mercado interno.
A produção total prevista para a safra atual, em Santa Catarina, é de 2,76 milhões de toneladas. Em relação à safra anterior, essa quantidade é cerca de 3% menor. Os motivos que explicam o recuo têm a ver, principalmente, com o excesso de chuva em outubro e novembro de 2023, que causaram atraso na semeadura, perdas de nutrientes do solo e prejuízo no padrão de população de plantas.
Durante o ano de 2023, os preços pagos aos produtores de trigo tiveram forte baixa, com uma pequena recuperação nos meses de novembro e dezembro. Depois disso, os preços se mantiveram relativamente estáveis. Em fevereiro de 2024, o preço médio pago aos produtores catarinenses ficou em R$64,39 a saca, uma oscilação negativa de 0,77% na comparação com janeiro. Na comparação anual, em termos nominais, a variação negativa foi de quase 25%.
Conforme consta no Boletim Agropecuário de março, com uma safra problemática em termos de qualidade, há escassez de produto de boa qualidade no mercado interno. Os moinhos brasileiros têm procurado fornecedores internacionais para o abastecimento de trigo e farinhas de trigo. A safra catarinense, que já foi totalmente colhida, teve sua produção estimada em 307,6 mil toneladas, com área cultivada de aproximadamente 137,5 mil hectares. Devido ao excesso de chuva no período da colheita, a produtividade média estadual apresentou uma redução de 35% em relação à safra anterior, além de perdas de qualidade, que diminuíram a rentabilidade das lavouras.
O ano de 2024 iniciou com preços elevados do arroz, mas com tendência de redução nos próximos meses em razão do início da colheita da safra catarinense 2023/2024. Na primeira quinzena de março, o preço médio recebido pelos produtores no Estado ficou em R$96,67 a saca de 50 quilos. No Rio Grande do Sul, o movimento observado foi o mesmo, mas ainda mais expressivo. Esse comportamento dos preços é esperado, visto que o aumento da oferta interna, quer seja pelo avanço da colheita ou pela entrada do produto adquirido de outros estados ou do Mercosul, tem como resultado a redução dos preços.
A safra catarinense 2023/2024 apresenta leve redução da área plantada, na comparação com a safra anterior. A ocorrência de chuvas excessivas, baixa luminosidade, excesso de nebulosidade, dificuldade de execução de tratamentos fitossanitários e excesso de calor na floração, têm prejudicado o desenvolvimento das lavouras. A produtividade estimada inicialmente poderá sofrer redução de 5 a 8%, a depender dos dados da colheita em andamento.
O IBGE divulgou, neste mês de março, os dados estaduais da Pesquisa Trimestral do Leite relativos a 2023. A quantidade adquirida pelas indústrias brasileiras atingiu 24,5 bilhões de litros, aumento de 2,5% em relação ao volume registrado em 2022. O desempenho entre os estados foi bastante heterogêneo. Entre os seis com maior quantidade adquirida pelas indústrias, Santa Catarina se destacou. Com crescimento acumulado de 8,7% entre 2021 e 2023, pela primeira vez na história, as indústrias catarinenses adquiriram mais leite cru do que as indústrias do Rio Grande do Sul.
No primeiro bimestre de 2024, as importações brasileiras de lácteos foram de 47,2 milhões de quilos, aumento de 20,4% em relação ao primeiro bimestre de 2023. No mesmo período, as exportações aumentaram 64,4%: saltaram de 4,5 milhões para 7,4 milhões de quilos.
Nos meses recentes, os preços dos lácteos tiveram um aumento. Desde novembro de 2023, o valor médio pago aos produtores das principais regiões produtoras, levantados pela Epagri/Cepa, teve recuperação de R$0,40 por litro. Ainda assim, em todos os meses de 2024 os preços foram inferiores aos dos mesmos meses de 2023.
O mercado da banana, em Santa Catarina, experimentou uma valorização nos preços entre janeiro e fevereiro de 2024 devido à baixa oferta da fruta, especialmente da variedade caturra, causada por condições climáticas desfavoráveis que afetam a qualidade e a colheita. No entanto, essa valorização também reduziu a demanda interna e externa, com destaque para a queda nas exportações. A demanda externa foi reduzida em 28%, em termos de volume das exportações brasileiras, entre 2021 e 2023. Nos dois primeiros meses de 2024, essa redução foi ainda mais significativa: ficou acima de 55%, principalmente nas compras do Uruguai e Argentina. Em termos de produção, é estimada, para Santa Catarina, uma redução de cerca de 7% na safra de banana em 2023/2024, na comparação com a safra anterior.
A safra catarinense de alho foi fortemente afetada pelas condições climáticas. Por consequência, a produção foi de apenas 7,37 mil toneladas, redução de 3,66% em relação à última estimativa de dezembro/23 que era de 7,65 mil toneladas.
Em fevereiro o preço médio pago aos produtores catarinenses foi de R$7,75/kg para o alho classes 2-3, de R$12,00/kg para os alhos classes 4-5 e de R$16,00/kg para os alhos classes 6-7. No mês foram importadas 15,77 mil toneladas de alho, volume próximo da média histórica do mês. O preço médio do alho importado no mês de fevereiro foi de US$1,13/kg, aumento de 24,18% comparado ao mês anterior que foi de US$0,91/kg. A Argentina foi o maior fornecedor do mês com 15,66 mil toneladas, perfazendo 99,26% da importação; a China, com 67,5 mil toneladas, respondeu por 0,43% e o Chile, com 49,26 toneladas, por 0,31 % do volume importado.
Na Ceagesp/SP, o mês de fevereiro se iniciou com o preço em R$5,37kg para a cebola-nacional média – aumento de 53 % em relação ao preço do início de janeiro, quando era de R$3,50/kg.
Na Ceasa/SC o mês de fevereiro se iniciou com o preço da cebola tipo 3 no atacado a R$3,00/kg, redução de 14,28 % em relação ao início de janeiro quando foi comercializada a R$3,50/kg. A partir do início da segunda quinzena do mês, as cotações tiveram significativo aumento e passaram para R$4,75/kg.
O preço médio pago aos produtores catarinenses em fevereiro foi de R$3,30/kg, aumento de 39,24% em relação ao preço médio de janeiro que foi de R$2,37/kg, valor acima do custo médio de produção estimado em R$1,67/kg.
No primeiro bimestre de 2024 a quantidade importada é bem superior ao mesmo período dos anos anteriores totalizando 27.947 toneladas, reflexo da baixa oferta do produto nacional.
Santa Catarina exportou 92,3 mil toneladas de carne de frango (in natura e industrializada) em fevereiro – altas de 1,8% em relação aos embarques do mês anterior e de 16,5% na comparação com os de fevereiro de 2023. As receitas, por sua vez, foram de US$175,2 milhões – altas de 5,1% em relação às do mês anterior e de 2,3% na comparação com as de fevereiro de 2023.
No acumulado do 1º bimestre, Santa Catarina exportou 183,1 mil toneladas, com receitas de US$342,0 milhões – alta de 4,9% em quantidade, mas queda de 10,6% em receitas, na comparação com as do mesmo período do ano passado. O Estado foi responsável por 25% das receitas geradas pelas exportações brasileiras de carne de frango nos dois primeiros meses do ano.
Nas primeiras semanas de março, observaram-se quedas nos preços do boi gordo na maioria dos principais estados produtores, situação também registrada em Santa Catarina. O preço médio estadual da arroba bovina nesse período foi de R$237,99, -0,6% em relação ao valor registrado no mês anterior. Tal cenário é decorrente, principalmente, da grande oferta de animais prontos para abate nos principais polos de produção bovina do País. Quando se leva em consideração o valor recebido pelo produtor em março de 2023, a queda é ainda mais expressiva: -17,6%.
Os preços de atacado da carne bovina, por outro lado, apresentaram variações positivas na comparação entre os valores das duas primeiras semanas de março e os do mês anterior: alta de 0,9%.
Santa Catarina exportou 53,5 mil toneladas de carne suína (in natura, industrializada e miúdos) em fevereiro, queda de 1,2% em relação ao montante do mês anterior, mas alta de 25,4% na comparação com os embarques de fevereiro de 2023. As receitas foram de US$119,4 milhões, altas de 2,3% na comparação com as do mês anterior e de 16,6% em relação às de fevereiro de 2023.
No acumulado do 1º bimestre, o estado exportou 107,6 mil toneladas de carne suína, com receitas de US$ 236,1 milhões – altas de 16,2% e 4,6%, respectivamente, em relação às do mesmo período de 2023. Santa Catarina respondeu por 59,7% das receitas e por 57,6% do volume de carne suína exportada pelo Brasil este ano.
Leia a íntegra do Boletim Agropecuário de março aqui.
*Por Marcionize Bavaresco, jornalista bolsista na Epagri/Cepa.
Mais informações e entrevistas:
– João Alves,, analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, fone: (48) 3665-5075
– Haroldo Tavares Elias, analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, fone: (48) 3665-5074
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