Extensionista leva informação e transfere tecnologias para as famílias rurais com foco no desenvolvimento territorial sustentável – Foto: Aires Mariga / Epagri
Garantir a permanência dos jovens agricultores no campo é garantir a segurança alimentar do Brasil, já que 70% dos alimentos produzidos no país vem da agricultura familiar. Em Santa Catarina, uma ação da extensão rural da Epagri iniciada em 2012 para a capacitação das novas gerações de agricultores e pescadores vem se refletindo na redução do êxodo rural: um levantamento da Empresa realizado em 2018 com egressos desses cursos apontou que 93% deles permaneciam na propriedade, conduzindo as atividades com suas famílias.
A peça-chave de todo esse trabalho tem um nome: extensionista rural. Em 6 de dezembro, data em que se comemora o dia desse profissional no Brasil, mostramos um pouco do trabalho que ele executa para garantir a sucessão familiar nas propriedades catarinenses.
Desde 2012 a Epagri executa em Santa Catarina a Ação Jovem Rural e do Mar , processo de educação não formal em que o participante alterna períodos de capacitações nos Centros de Treinamento da Empresa e períodos na propriedade, onde recebe apoio dos extensionistas para aplicar o que aprendeu. Participam jovens entre 18 e 29 anos para serem preparados para assumir as rédeas das propriedades e construir seu futuro. Nesse período foram capacitados cerca de três mil jovens.
Os cursos abordam temas técnicos em diversas cadeias produtivas, bem como em gestão. Além de capacitação, esse grupo conta com políticas públicas específicas da Secretaria de Estado da Agricultura para investir na propriedade ou comprar equipamentos de informática . De 2013 a agosto 2023, foram liberados cerca de R$10 bilhões para os jovens rurais e pesqueiros investirem nas respectivas atividades produtivas.
A extensionista social de São Joaquim, Cristiane Lopes Couto, conta que o trabalho com os jovens rurais exige bastante dos extensionistas, pois são um público ávido por conhecimento. “Eles querem respostas rápidas e objetivas. Porém, é um público que nos traz um retorno muito rápido também: são decididos, sabem o que querem e a maioria é focada em seus objetivos. Portanto, cabe a nós, extensionistas, o papel de mostrar as diversas possibilidades que eles têm de empreender dentro de suas propriedades”, diz.
Os cargos de extensionista social e de extensionista rural estão previstos no quadro funcional da Epagri e ambos têm como principal abordagem do trabalho a do desenvolvimento territorial sustentável. Esses profissionais desenvolvem ações na área de educação não formal para promover processos de gestão, produção, beneficiamento e comercialização das atividades e dos serviços agropecuários e não agropecuários, inclusive agroextrativistas, florestais e artesanais.
Cristiane comenta que nem sempre o público urbano sabe o que faz uma extensionista social. “Nesta função a gente tem a oportunidade de trabalhar com muitas atividades. Eu trabalho na Epagri há 21 anos, onde passei por três municípios, sempre atendendo as demandas dos agricultores. Nos últimos anos tenho direcionado minha atuação em projetos de educação ambiental nas escolas do interior, bem como com as mulheres, turismo e jovens rurais”, conta ela.
A formação exigida para o cargo de extensionista social varia conforme as atividades a serem desenvolvidas: pedagogia, nutrição, engenharia de alimentos, dentre outros. Para exercer a profissão de extensionista rural, o profissional deve ter formação nas áreas agrárias.
A extensionista rural de São Miguel do Oeste, Simone Bianchini, fazia graduação em Filosofia quando descobriu a profissão de extensionista rural ao participar de um simpósio de desenvolvimento rural. “Migrei para o curso de Agronomia com a convicção de que essa seria a profissão que eu ia seguir”, revela.
Ela ingressou na Epagri em 2008 e diz ter sido uma de suas maiores alegrias. Simone é filha de agricultores e hoje, ao coordenar a ação Jovem Rural nos municípios do Oeste Catarinense, sente que honra sua origem ao promover a continuidade das atividades rurais, que estão sendo assumidas pelos filhos.
O extensionista rural de São João do Itaperiú, Adriano Alfred Schütz, também é realizado na profissão. Ele afirma que a Epagri dá aos extensionistas a oportunidade de literalmente entrar na casa dos agricultores de forma muito ética. “Buscamos o desenvolvimento do produtor e de sua família e se for necessário dizer que tal produto não funciona, podemos falar com bastante propriedade, porque não somos vendedores, mas sim transmissores de informações e de tecnologias eficientes. Esse é o objetivo que eu sempre tive na escolha da profissão: melhorar a vida das famílias rurais sem querer nada em troca”, confessa Adriano.
Desde a graduação, o sonho dele era ser extensionista da Epagri, onde ingressou em 2018, após anos de trabalho em parceria com a Empresa. “Trazemos para as famílias uma visão a longo prazo de desenvolvimento da propriedade, respeitando os conhecimento e as limitações dos agricultores. O que mais me traz satisfação é escutar dos agricultores: ‘obrigada por esse trabalho conosco. Eu não tinha visto o quanto era simples e eficiente uma pequena mudança’. Isso traz motivação de continuar na nossa atividade, principalmente nesse momento em que preparamos as novas gerações para dar continuidade ao trabalho que iniciamos com os pais”, afirma Adriano.
A jovem Érica Cardoso, 27, de São Joaquim, faz parte do público que procurou a Epagri em busca de conhecimento. Ela e o marido Anderson fizeram o curso da Epagri em 2022 e a partir dele estão empreendendo na propriedade da família, que produz frutas e hortaliças orgânicas, principalmente a maçã.
Para agregar valor na atividade, o casal está montando uma agroindústria para processar as frutas, que inclui também morango, amora e mirtilo. Erica também produz panificados e vende sua produção na feira do município ou destina para a alimentação escolar.
“Por falta de conhecimento, às vezes a gente foca o trabalho no campo em apenas uma atividade. O curso nos abriu a mente e a gente percebeu que a propriedade, mesmo sendo pequena, permite ter atividades diversificadas. A gente tem sonhos como qualquer outra pessoa, queremos uma vida melhor. A Epagri nos traz conhecimento para que isso aconteça”, diz Érica.
A jovem também tem mais conquistas em seu currículo: em 2023, foi a vencedora do concurso gastronômico dos produtos com Indicação Geográfica da Serra Catarinense nas duas categorias: prato doce e salgado.
A extensionista Cristiane conta que nos três anos de trabalho com a jovem, ela percebeu a evolução e o amadurecimento da agricultora. ”Érica é um exemplo a ser seguido: tem persistência, força, coragem e autoconfiança. Ela tem uma autoestima bastante elevada e eu considero isso muito importante para a pessoa conseguir realizar o seus sonhos”, diz Cristiane.
O casal Mariana dos Santos Valdrich, 21, e Gustavo Zemann, 25, de São João do Itaperiú, fizeram o curso de jovens em 2023 também em busca de conhecimento para tocar a propriedade da família dela no município, que está naquela terra há várias gerações e que agora está sendo dividida entre os herdeiros. A atividade principal é a produção de banana-figo, desenvolvida em 32 hectares, mas os jovens precisavam encontrar uma atividade que gerasse a mesma renda em 5 hectares e decidiram pela pecuária de corte, que ano que vem começam a transição.
O extensionista Adriano afirma que Mariana e Gustavo são um casal diferenciado, com ampla visão de negócios. “Durante o curso da Epagri, eles decidiram investir na produção de gado de corte utilizando linhagens europeias, o que vai agregar ainda mais valor para a atividade”, destaca Adriano. O município ostenta o título de capital catarinense da Carne Bovina e Ovina e por conta disso comporta uma excelente estrutura para o desenvolvimento dessa cadeia produtiva.
Isso é confirmado por Mariana. “No curso encontramos possíveis fornecedores de animais e frigoríficos para enviar a produção”. Ela afirma que antes da capacitação se sentia muito sozinha na agricultura, com dificuldade de se conectar com outros jovens porque os urbanos não vivem a realidade do rural. “No curso construímos uma rede de relacionamentos”, comemora.
Gustavo nasceu e cresceu na área urbana e, até assumir o relacionamento e a propriedade com a Mariana, trabalhava na indústria. Mariana cresceu no campo e não queria sair de lá, mas tinha emprego na cidade porque não se via trabalhando na agricultura. Eles estão juntos há dois anos e decidiram ficar no campo. Com o curso, chegaram à conclusão que a área rural “ferve” com oportunidades para o jovem, como ele mesmo diz. Eles são os únicos jovens da família que querem investir na agricultura.
“Somos gratos aos pais por persistirem na atividade em uma época em que não existiam tantas oportunidades. A agricultura é uma profissão que muitos consideram difícil, mas é executada com muita alegria, porque ser agricultor é estilo de vida”, diz Gustavo. Ele afirma que antigamente a dificuldade estava no acesso à tecnologia e informação, mas com a Epagri isso mudou. “A agricultura catarinense está bem amparada”, afirma.
Gustavo termina a entrevista compartilhando um trecho de seu discurso como orador na formatura do curso de jovens: “O que será da agricultura daqui a 20 anos? A expectativa é cada vez melhor: agricultura mais forte, mais valorizada. Um grande e belo futuro aguarda por nós. Uma grande e poderosa Santa Catarina se dispõe a nos acompanhar. Uma grande e genial geração de novos agricultores se prepara para revolucionar o mercado”.
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Isabela Schwengber, jornalista
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