Investimento, preservação e tecnologia: é com essa fórmula que a Epagri trabalha junto às famílias rurais para garantir que não falte água no campo, mesmo quando falta chuva. Para combater os problemas decorrentes da estiagem, os investimentos em projetos de infraestrutura hídrica e preservação do solo e da água têm sido substanciais em Santa Catarina nos últimos anos e já mudaram a realidade de milhares de propriedades rurais.
Atendendo individualmente cada família, os técnicos da Epagri discutem a melhor forma de resolver ou minimizar o problema da falta de água. Definida a solução, a empresa elabora os projetos de crédito para que os agricultores tenham acesso aos recursos disponibilizados por políticas públicas.
Em 2022, do total de R$563 milhões que beneficiaram as famílias rurais catarinenses com projetos feitos pela Epagri, aproximadamente R$91 milhões foram destinados para 2.476 sistemas de captação, armazenamento e distribuição de água. A maior fatia desse valor – R$86 milhões – foi apoiada pelos programas Investe Agro SC – Água para o Campo e Prosolo e Água SC, da Secretaria da Agricultura.
Após a liberação dos recursos, os técnicos da Epagri acompanham e assessoram a implantação dos projetos. Em cada propriedade beneficiada, esse dinheiro se transforma em cisternas , sistemas de tratamento, captação e distribuição de água, sistemas de irrigação, proteção de fontes e implantação de matas ciliares, entre outras soluções para melhorar a vida das famílias e garantir a produção de alimentos no campo.
No caso dos projetos apoiados pelo programa Investe Agro SC – Água para o Campo, a Secretaria da Agricultura subvenciona até 3% dos juros ao ano. Já os projetos com financiamentos apoiados pelo Prosolo e Água SC são pagos em cinco anos sem juros, e a família que pagar em dia tem desconto de 50% nas parcelas.
Além de trabalhar para que os investimentos cheguem às propriedades, a Epagri leva tecnologias que aumentam a capacidade das famílias rurais de atravessar os períodos de estiagem sem prejuízos à produção e à qualidade de vida. O caminho é preservar a água e o solo e adotar práticas conservacionistas na agropecuária.
Só em 2022, a empresa orientou 1.594 famílias em proteção de nascentes, 3.543 em atividades de recuperação ambiental, 6.354 em sistemas de captação e melhoria de qualidade da água e 1.764 em reserva de água.
Como resultado, os reservatórios e as cisternas construídos durante o ano nas propriedades catarinenses somaram uma capacidade de armazenamento de cerca de 1,4 milhão de metros cúbicos de água. A mata ciliar, fundamental para proteger rios, córregos e nascentes, ficou 114 hectares maior em Santa Catarina. Ao mesmo tempo, 475 propriedades rurais construíram proteções de nascentes e 230 famílias melhoraram a qualidade e a quantidade de água disponível para consumo humano.
Trabalho intenso em Presidente Getúlio
No Alto Vale do Itajaí, o município de Presidente Getúlio, que historicamente sofre com eventos climáticos adversos, é hoje um exemplo de como esse trabalho pode minimizar o problema. A produção leiteira e de suínos, duas das principais atividades econômicas locais, são altamente impactadas pela redução do fornecimento de água dos rios. Além disso, a maioria das famílias rurais utiliza captação de água superficial para abastecimento da propriedade e consumo humano.
Com um esforço intenso de combate à estiagem, em 2022 Presidente Getúlio foi o município do Alto Vale com o maior número de projetos de captação e armazenamento de água executados pela Epagri: 22 famílias do meio rural foram beneficiadas com financiamentos dos programas Investe Agro SC e Prosolo e Água SC.
Entre os projetos estão sistemas de captação de água da chuva em telhados de casas e galpões, armazenamento em caixas de 5 mil a 20 mil litros e também em cisternas de 200 mil até 1 milhão de litros. Ainda foram executados projetos de captação e transferência de água de nascentes para uso doméstico e produtivo, recalque e armazenamento de água de nascentes para uso animal e construção de reservatórios de água para uso animal e agrícola.
Para apoiar essas ações de preservação, a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente do município, com apoio da Epagri, criou um Projeto de Lei que disponibiliza aos produtores recursos públicos para a recuperação de mata ciliar no entorno de rios, córregos e nascentes. Esse projeto abriu as portas para a criação de um programa chamado Semeando Água, que vai disponibilizar gratuitamente às famílias os materiais para cercar as áreas e também mudas de plantas nativas.
Para ter acesso aos programas, a família precisa dar uma contrapartida ambiental que pode ser a recuperação ou proteção de nascente, ou ainda a implantação de mata ciliar na propriedade. Em 2022, essa contrapartida somou 8,4 hectares de mata ciliar cercada ou recuperada em Presidente Getúlio.
Durante muitos anos, bombear água do rio São José até a estrebaria foi rotina para a família Henkel, que vive no interior de Presidente Getúlio. Eles trabalham com a pecuária leiteira e usam diariamente grandes volumes de água para fornecer aos animais e higienizar a sala de ordenha. “Era bem trabalhoso. A gente se revezava entre puxar água do rio e buscar fontes mais acima da propriedade. Quando chovia, o rio ficava barrento, então não podíamos usar essa água para a limpeza”, lembra o agricultor José.
Em 2022, a família começou a usar outra fonte de água – a que cai do céu. Graças a um projeto elaborado pela Epagri, José conseguiu financiamento de R$44 mil do Programa Prosolo e Água SC para instalar na propriedade um sistema de coleta e armazenamento de água da chuva.
Os telhados das construções da propriedade – como a sala de ordenha, a sala de alimentação e a sala de espera das vacas – agora têm calhas e canos que conduzem a água da chuva para seis caixas. Juntas, elas somam capacidade para 100 mil litros d’água. Esse volume traz tranquilidade para a família, que tem água suficiente para lavar a sala e os equipamentos de ordenha e fornecer aos animais quando estão na estrebaria. “Nosso trabalho melhorou bastante porque a água da chuva é limpa”, conta José.
Para ter acesso ao financiamento, a família investiu em preservação e cercou uma fonte de água da propriedade, protegendo a mata ciliar e evitando o acesso dos animais ao local. Agora, os Henkel têm um ano de carência e cinco anos para quitar o financiamento, com desconto de 50% para os pagamentos em dia.
A família também adota o modelo mais sustentável para a produção de leite – o sistema à base de pastagens perenes de verão, orientado pela Epagri. A propriedade tem 12 hectares de pastagens piqueteadas e com água disponível para os animais. O rebanho de 33 vacas em lactação produz de 15 a 17 mil litros de leite por mês. “A agricultura é assim: tem época boa, tem época ruim e a gente precisa trabalhar conforme o tempo. Mas se o produtor quer ficar na agricultura, precisa preservar o solo e a água na propriedade”, defende José.
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Escrita por: Cinthia Andruchak Freitas, jornalista