Algas podem ser utilizadas para indicar a qualidade da água de diferentes ambientes aquáticos
Estudo realizado em Parintins (a 369 quilômetros de Manaus) já identificou 120 espécies de microalgas em 40 pontos localizados dentro e fora da área urbana do município. Grande parte desses organismos foi contabilizada pela primeira vez na região. O projeto, que está em curso, é apoiado pelo Governo do Amazonas por meio do Programa Biodiversa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
O registro e a descrição dessas espécies tornam possível avançar no uso das microalgas (organismos que vivem em meio aquático ou úmido) como ferramentas para monitorar a qualidade da água e, ainda, formar um banco de dados das espécies, para estudos de impacto ambiental na região.
De acordo com a coordenadora do projeto, doutora em biologia vegetal, Angela Lehmkuhl, do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), quanto maior a diversidade de microalgas encontradas em determinado lugar, melhor também será a qualidade da água presente naquele local.
“Nos ambientes com baixo impacto as espécies de algas são consideradas raras, endêmicas e com potencial indicador de boa qualidade da água, e embora nos ambientes com moderado impacto a diversidade ainda seja alta, as espécies indicam que a qualidade da água vem diminuindo, colocando em risco a segurança hídrica e o serviço que aquela ambiência oferece. E, neste ponto, são locais destinados a planos de recuperação para seu uso ser sustentável”, ressaltou.
Todas as coletas de microalgas, realizadas até agora no projeto, foram feitas durante o período de seca dos rios da bacia do Rio Amazonas, que banha a cidade de Parintins.
A próxima etapa da pesquisa é coletar as microalgas no período de cheia dos rios, entre abril e maio, nos mesmos pontos da primeira fase do estudo. Assim, o projeto visa conhecer espécies de algas de diferentes localidades do município de Parintins e, a partir disso, inferir a qualidade da água desses lugares e direcionar pontos com prioridade para conservação, preservação e restauração.
Segundo a pesquisadora, uma das motivações para conduzir um estudo científico sobre o tema é o desconhecimento de grande parte da diversidade aquática encontrada na região, principalmente em relação às microalgas do Baixo Amazonas, onde está localizada a ilha de Parintins.
“As espécies de microalgas além de serem a base da cadeia alimentar, têm grande função na resiliência dos ecossistemas aquáticos. Estudos preliminares vêm demonstrando que ambientes de águas pretas do município de Parintins são berços de grande diversidade de espécies e de microalgas ainda não descritas pela ciência”, explicou Angela Lehmkuhl.
O projeto conta com a participação de biólogos, botânicos, ecólogos, engenheiros de pesca e alunos dos cursos de zootecnia e biologia.
Os participantes são vinculados à Ufam em Parintins e em Manaus, à Universidade Federal do Paraná (UFPR), e à Universidade do Colorado, nos Estados Unidos. Iniciada em 2021, a previsão é que a pesquisa seja finalizada em 2023.
Intitulado “Ambiências aquáticas e diversidade de microalgas no município de Parintins – AM”, o projeto é fomentado pelo edital Nº 007/2021 do Programa Biodiversa, da Fapeam.
O projeto apoia propostas de pesquisa científica, tecnológica e/ou de inovação, ou de transferência tecnológica, coordenadas por pesquisadores residentes no estado do Amazonas, vinculados às instituições de pesquisa ou de ensino superior ou centros de pesquisa de natureza pública ou privada sem fins lucrativos, voltadas para caracterização, conservação, restauração, uso sustentável do meio ambiente e exploração sustentável da diversidade amazônica, com vistas à produção de conhecimentos que contribuam para o enfrentamento dos problemas ambientais amazônicos e que subsidiem a formulação de políticas públicas de conservação ambiental no Amazonas.